Primeiro, estrastes como ar: Cada molécula respirada por mim passava por todas as partes do meu corpo. Eu sentia. E -conforme passou o tempo- comecei a precisar te inalar para viver.
Depois se transformou em fogo: Mas só me aquecia. Nenhum prejuízo emocional nem físico. Nunca me queimara e nem tampouco me fizera mal até então. Me fazia suar até no inverno. Ah, com certeza! Me fazia ter o coração acelerado de nervosismo e eu tinha um pouco de medo de brincar com você, mas colocaria a mão em você por nosso relacionamento.
Virou terra, depois. De forma que me aliviava, conseguiu estancar toda e qualquer ferida aberta que tinha. Não me deixava sangrar. Se firmou em mim por completo. Me envolveu como envolveria uma raiz de uma árvore que ainda está crescendo e precisa de apoio para aprender a ser grande (todas aquelas tempestades eram demais para mim, mas com você me apoiando, eu sabia passar por isso).
O problema foi quando decidistes chover: a terra foi por água abaixo, me desamparou, destampou a ferida, apagou aquele fogo e me deixou com frio. Eu estremecia, pedindo ajuda, mas não a recebi, eu desabei. Caí. E, depois, te senti escorrer por entre as mãos, ou melhor, pelos galhos: você virou líquido. Parecia um rio que seguia o caminho sem parar e sem ter como. Quase me levou. Eu queria que tivesse me levado. Mas foi embora sozinho. Seguiu o seu caminho sem se importar em parar para me oferecer ajuda.
Achei que tinha acabado por aí. Me preparei pra me fortalecer, mas quando me dei por perceber, o fogo tinha voltado e quase fiquei feliz: achei que ia me aquecer e me tirar o frio, mas dessa vez deixou queimaduras de 3º grau e...bem, as cicatrizes estão enormes até hoje, feias e a cada vez que as vejo me lembro disso tudo. Ainda dói, mas essas cicatrizes fizeram com que eu ficasse mais seletiva: agora eu escolho muito bem a terra onde posso me firmar. Talvez por isso esteja todo esse tempo parada aqui, apenas observando. E...eu sei esperar. Eu vou esperar e, finalmente, me curar.