O jogo

E então, ele chegou sendo olhado por todos, a todo momento. Mal sabia-se que, na verdade, ele já estava lá desde sempre, escondido dentro de um corpo. Ele dizia coisas que destroçavam o coração de qualquer um, fazia tudo aquilo que dizia ser errado (se era feito por outro alguém).
E de outras bocas, quantas vezes já quiseram sair tais palavras? Era como um dom que poucos possuiam, ele tinha. Único, especial. O que melhor convém. Quando foi possível, ele enfiou um chumaço de algodão nos ouvidos. Ou teria ele apenas deixado as palavras passarem como um vento sem força? Se ele os tivesse dado uma chance, apenas, teriam prometido:  "tudo seria diferente". Mas, o prazer estava nos seus atos de ignorá-los. A sua vitória (psicoló-gica) estava na presente e infeliz hierarquia.
Poderiam dizer-lhe que gastaram mais de dias tentando entender, achar uma solução. Na qual todos saíssem felizes. Mas não foi possível. Sozinhos, não conseguiram. Por que ele não os deixou falar? Por que preferiu a solidão ao simples fato de pensar, se colocar no lugar dos outros.
E então lhes pediam uma razão para persistir. Pois já não viam mais aquela luz distante que conseguiam enxergar assim que chegaram lá. É como se estivessem andando para trás.
Eles tentaram, juraram. E não diziam que desistiam. Mas que estavam prestes. Porque a ferida estava crescendo, e parecia, então, já não ter cura.
Ele poupava a todos os outros, e se doia por eles. Mas, àqueles que o queriam bem, fazia doer mais
ainda. Onde estava o equilíbrio? E eles começaram a sentir medo. Medo de quem ele se tornava.
Eles não suportariam ter que enganá-lo mais uma vez, para evitar a discórdia. Não suportariam ter que olhar em seus olhos, sabendo que não estavam vendo-o, para não sentir o sabor da falsidade.
Eles não queriam, não queriam que fosse assim. Tarde demais, ele havia desistido deles. E então, se viram forçados a desistir dele. Haviam perdido o jogo.